Dança
A arte como sinônimo de inclusão
Projeto da UFPel, A Comunidade Surda Reinventando a Arte do Balé, recebe interessados a partir dos 12 anos de idade
Jô Folha -
Dançar é muito mais do que manifestação artística. Vai bem além de expressão corporal ou noção rítmica. Ao deslizar mãos e pernas, é possível fazer eco a um recado: eu posso. Eu sou capaz. E é também um dos objetivos centrais do projeto A comunidade surda reinventando a arte do balé, desenvolvido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). E o melhor: se você pretende participar ainda há vagas. Não é preciso ter vivências anteriores na dança.
Ainda assim, para a doutoranda em Linguística, Francielle Cantarelli Martins, 30, engajar-se ao projeto foi como aceitar um convite para voltar à infância. Por volta dos oito anos, em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), em Morro Redondo, a estudante ficava atenta aos movimentos dos colegas e reproduzia. Imitava. Era naquele universo, sem qualquer tipo de acessibilidade, que experimentava o amor pela dança. E sem ouvir, claro, as músicas que eram pano de fundo às coreografias das invernadas e sem nenhum tipo de olhar especializado à inclusão, Franciele agarrava-se a uma certeza: era possível, sim, envolver-se com a arte.
Hoje, professora da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), ela amplia essa convicção: expressar-se através da dança é mais do que compreender o próprio corpo. Uma lógica que vale também para outras formas de manifestação artística: "Muitos surdos não se envolvem em questões abstratas, mas com a acessibilidade ofertada é possível se envolver com a dança, o teatro, a pintura, o cinema...", enfatiza.
E ao acompanhar o crescimento da filha Fiorella, de três anos de idade, faz questão de dar acesso a essas tantas descobertas. É assim, com fones nos ouvidos e um repertório marcado por sons agudos e graves fortes, que a pequena risonha vivencia a música, através das vibrações. As mesmas vibrações que chegam pelos pés e auxiliam a ditar o ritmo à mãe em mais uma aula de balé.
Interdisciplinar e inclusivo
O projeto interdisciplinar A comunidade surda reinventando a arte do balé é desenvolvido por duas unidades da UFPel: Centro de Letras e Comunicação e Escola Superior de Educação Física (Esef). As aulas, direcionadas exclusivamente para surdos, são divididas em três momentos: alongamento, coordenação motora e dança.
"Queremos mostrar que eles são capazes e garantir uma oportunidade que, em geral, não têm", entusiasma-se a professora do curso de Letras, Karina Pereira, que uniu o conhecimento em Libras com a bagagem de 12 anos de balé para assumir a frente do trabalho. Para aumentar o número de participantes, a intenção é fazer visitas em escolas para espalhar o chamamento.
Uma vaga para bolsista do projeto é um dos avanços a comemorar, em apenas seis meses de atividades - destaca a coordenadora. "É um trabalho extremamente enriquecedor e estamos construindo juntos", reforça. E nesse processo de aprendizado coletivo, antes de a música mandar pistas pelas vibrações do tablado, contagens ajudam a demonstrar o ritmo e as marcações que estão por vir. Depois, é só deixar sentimento, corpo e alma extravasarem.
Participe!
As atividades gratuitas são destinadas a jovens e adultos, a partir dos 12 anos, sem limite de idade.
Os interessados podem fazer contato pelo e-mail [email protected]
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